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Editado por HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

A salvo com o teu amor

Título original: In Pursuit of Eliza Cynster

© 2011, Savdek Management Proprietary Ltd.

© 2016, para esta edição HarperCollins Ibérica, S.A.

Tradutor: Fátima Tomás da Silva

 

Reservados todos os direitos, inclusive os de reprodução total ou parcial em qualquer formato ou suporte.

Esta edição foi publicada com a autorização de HarperCollins Publishers LLC, New York, U.S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos comerciais, acontecimentos ou situações são pura coincidência.

 

Design e ilustração da capa: Jon Paul

 

ISBN: 978-84-16502-70-7

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

SUMÁRIO

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Epílogo

PRÓLOGO

 

Abril de 1829

Taberna The Green Man

Cidade Velha, Edimburgo

 

— Tal como lhe expliquei na nossa conversa anterior, senhor Scrope, o meu pedido é muito claro. Desejo que rapte a menina Eliza Cynster em Londres e que ma entregue aqui, em Edimburgo. — McKinsey (ainda se fazia chamar assim; ao fim e ao cabo, era um bom nome falso) estava comodamente sentado num local reservado ao fundo da taberna, observando o homem que tinha em frente sob a luz ténue. — Teve duas semanas para analisar a situação e elaborar um plano. A única questão a que resta responder é se será capaz de me trazer Eliza Cynster e entregar-ma sã e salva, sem que sofra qualquer dano.

Scrope olhou-o nos olhos ao responder. Era um tipo de cabelo e olhos escuros, rosto delgado e atitude um tanto soberba.

— Depois de analisar atentamente a situação, penso que podemos chegar a um acordo.

— Não me diga…

McKinsey baixou o olhar para os seus dedos, que acariciavam com parcimónia a caneca de cerveja, e perguntou-se o que raio estava a fazer. Scrope não lhe inspirava a mínima confiança e, mesmo assim, ali estava, a negociar com ele.

As suas dúvidas eram reais, embora certamente o tipo pensasse que se tratava de uma estratégia para baixar o preço. Na verdade, estava convencido de que Scrope podia levar a cabo aquela missão. Era por isso que estava ali, a contratar um cavalheiro (sim, por muito estranho que pudesse parecer, Scrope era um cavalheiro) conhecido entre a gente endinheirada e a aristocracia em especial por ser um homem que, pelo preço adequado, podia fazer desaparecer familiares incómodos.

Falando sem rodeios, Scrope era um especialista em sequestrar e eliminar qualquer rasto das suas vítimas. Nos clubes, corria o rumor de que nunca falhava, o que explicava em parte o preço exorbitante que cobrava pelos seus serviços. Apesar de todas as suas dúvidas, McKinsey estava disposto a pagar esse preço (até o dobro, se fosse necessário) desde que lhe entregasse Eliza Cynster.

Levantou a sua caneca e bebeu um gole antes de dizer:

— Como pretende levar a cabo o sequestro da menina Cynster?

Scrope inclinou-se um pouco para diante, com os antebraços apoiados na mesa. Entrelaçou as mãos e baixou a voz, apesar de não haver ninguém suficientemente perto para o ouvir.

— Tal como previu, depois da recente tentativa frustrada de sequestro que a menina Heather Cynster sofreu, Eliza Cynster encontra-se sob uma vigilância estrita e constante. Infelizmente, a dita vigilância inclui os seus irmãos e os seus primos. No decurso de uma semana, não apareceu em público uma única vez sem um ou mais dos ditos cavalheiros ao seu lado. Acompanhavam-na inclusive no trajeto de ida e volta quando ia a alguma festa privada. A família Cynster não está a valer-se de meros lacaios para manter a jovem dama a salvo. — Scrope fez uma pausa e esquadrinhou-lhe o rosto com o olhar numa tentativa de decifrar a expressão dos seus olhos claros. — Para lhe ser franco, a única forma de apanhar Eliza Cynster seria organizando uma emboscada e convém salientar que isso implicaria que os únicos eventuais feridos não seriam apenas os guarda-costas. Se o uso da força for a nossa única opção, não posso garantir a segurança da menina Cynster, pelo menos até a ter em meu poder.

— Não, não deve haver violência de qualquer tipo. — O tom seco de McKinsey converteu aquelas palavras numa proibição cortante e inegociável. — Não só para a jovem dama, mas também para a sua escolta.

Scrope franziu os lábios e abriu as mãos antes de argumentar:

— Se me proíbe de empregar um pouco de força, não sei como pode levar-se a cabo esta tarefa.

McKinsey arqueou um sobrolho e começou a tamborilar pausadamente com uma unha na mesa de madeira enquanto observava o rosto de Scrope, um rosto de uma elegância banal, no qual não se refletia emoção alguma. A expressão neutra do tipo era tão boa como a sua, mas os olhos...

Era um homem frio, não havia melhor forma de o descrever. Carente de emoções, distante, o tipo de homem capaz de cometer um assassinato como se nada fosse.

Infelizmente, o destino deixara McKinsey com escassas opções. Necessitava de alguém capaz de se encarregar da tarefa encomendada. Voltar atrás naquele momento era de todo impossível para ele. Mesmo assim, se desse rédea solta àquele tipo para que apanhasse Eliza Cynster...

Endireitou-se a pouco e pouco e apoiou os cotovelos na mesa para o olhar cara a cara.

— Estou consciente de que levar a cabo com sucesso esta tarefa, uma tarefa que implica apanhar Eliza Cynster debaixo do nariz da sua família poderosa, e mais ainda quando a dita família já está de sobreaviso, representaria para si que a sua reputação se cimentasse até o converter em algo parecido a um deus na sua área profissional. Se os Cynster não conseguem proteger-se de si, quem conseguirá fazê-lo?

Fizera as suas próprias pesquisas enquanto Scrope estava em Londres a avaliar a possibilidade de sequestrar Eliza Cynster. O tipo tinha fama de ser um dos melhores, mas, quando perguntara por ele (com a sua verdadeira identidade, não como McKinsey) a alguns dos cavalheiros para quem Scrope trabalhara previamente e que lhe dera como referência, mais de um tinha mencionado o seu empenho desmesurado em destacar-se, em conseguir levar a cabo tarefas que os mercenários mais precavidos preferiam recusar. Pelo visto, Scrope tinha-se tornado viciado na glória de realizar com sucesso aqueles trabalhos que pareciam impossíveis de levar a cabo. Os cavalheiros que o tinham contratado previamente viam aquela característica como algo positivo, mas, embora estivesse de acordo com eles no referente a levar a cabo um trabalho difícil, estava consciente de que Scrope podia utilizar aquele vício para fins próprios.

Embora o tipo não tivesse mostrado reação alguma ao ouvir as suas palavras, o facto de que se tivesse esforçado tanto para se manter impassível falava por si, portanto, McKinsey esboçou um sorriso compreensivo e acrescentou:

— De facto, quando completar esta missão com sucesso, poderá cobrar quantias muito mais elevadas do que agora pelos seus serviços, quantias astronómicas.

— Os meus honorários...

McKinsey levantou uma mão para o interromper.

— Não vou tentar renegociar o preço que já combinámos, mas... — Sem deixar de o olhar nos olhos, endureceu tanto a sua expressão como a sua voz ao acrescentar: — Em troca de eu lhe revelar como sequestrar Eliza Cynster sem ter de recorrer ao uso da força, embora a dama se encontre sob a proteção dos homens da família, exijo-lhe que cumpra uma condição.

Scrope ponderou a situação com cautela e demorou um minuto inteiro a perguntar em voz baixa:

— Que condição?

McKinsey teve a sensatez de não esboçar um sorriso triunfal.

— Que você e eu elaboremos o plano juntos do início ao fim, desde o momento do sequestro ao instante em que me entregar Eliza Cynster.

Scrope tirou outro longo instante para pensar, mas McKinsey não se surpreendeu minimamente quando respondeu por fim:

— Deixe-me ver se entendi bem... O que você quer é ditar como devo levar a cabo este trabalho.

— Não, o que quero é assegurar-me de que o leva a cabo de uma forma que cumpra por completo os meus requisitos. Sugiro que, quando lhe explicar como pode realizar o sequestro, você proponha como deseja proceder durante cada uma das fases do plano. Se eu estiver de acordo, você procede dessa forma. Se não estiver, criamos alternativas e escolhemos uma que agrade a ambos. — Estava convencido de que Scrope seria incapaz de recusar a possibilidade de ser o homem a conseguir sequestrar, com sucesso, uma Cynster.

O tipo desviou o olhar e debateu-se por alguns segundos antes de voltar a olhar para ele.

— Muito bem, aceito a sua condição.

Se Scrope fosse outro tipo de homem, McKinsey ter-lhe-ia apertado a mão para selar o acordo, mas limitou-se a esperar com expressão pétrea e, ao fim de um instante, o tipo acrescentou com naturalidade:

— Bom, diga-me, onde e como apanho Eliza Cynster?

Depois de lho explicar, McKinsey tirou do bolso da jaqueta um exemplar dobrado de um jornal londrino para lhe mostrar o anúncio pertinente. Scrope não estava a par do evento e o mais provável era que não se desse conta do potencial valor que tinha. Depois, não lhe foi difícil idealizar os detalhes do plano... Em primeiro lugar, a captura. Depois, a viagem de regresso a Edimburgo.

Ambos acordaram que a viagem devia ser levada a cabo com a maior celeridade possível.

— Como a minha tarefa não consiste em desfazer-me dela, mas em entregar-lha a si, prefiro deixá-la nas suas mãos o quanto antes.

— Estamos de acordo. — McKinsey fixou o olhar nos escuros olhos de Scrope ao afirmar com firmeza: — Não teria sentido arriscar-se mais tempo do que o necessário. — Ao ver que o tipo apertava os lábios, mas guardava silêncio, acrescentou: — Permanecerei na cidade para poder ocupar-me da menina Cynster assim que você a trouxer.

— Muito bem. Mando-lhe uma mensagem para o mesmo lugar que usámos para marcar este encontro.

McKinsey capturou o seu olhar e sustentou-lho ao dizer:

— Há algo que considero importante salientar: a menina Cynster não deve sofrer dano algum sob qualquer circunstância enquanto a tiver em seu poder. Estou disposto a aceitar que possa ser necessário sedá-la para conseguir tirá-la de casa em sigilo, mas estou convencido de que tanto você como os seus acompanhantes estarão capacitados para daí em diante a manterem calada e serena durante a viagem sem terem de recorrer a mais sedativos, nem a amarras desnecessárias. A história de a levar de volta a casa por ordem do seu tutor mostrou-se eficaz para controlar Heather Cynster. Funcionará igualmente bem com a irmã.

— Muito bem, usaremos essa desculpa. — Scrope fez cara de estar a rever mentalmente o plano e, depois de um silêncio teatral, olhou McKinsey nos olhos. — Acho que temos acordo, senhor. Segundo as minhas contas, estaremos de volta a Edimburgo, com a menina Cynster e prontos para lha entregar, cinco dias depois da sua captura.

— Sim, assim é. Seguir a rota que de que falámos permitir-lhe-á com toda a probabilidade evitar qualquer possível confronto.

Scrope sorriu então pela primeira vez.

— Sim, claro. — Ao ver que McKinsey se punha de pé, levantou-se por sua vez. Embora não fosse um tipo baixo, McKinsey era muito mais alto e entroncado do que ele, mas, mesmo assim, o seu rosto iluminou-se quando afirmou com muita segurança: — Fique descansado de que deixa este trabalho em boas mãos. Tenho tanto empenho como você em assegurar-me de que se leve a cabo com sucesso. — Esboçou um pequeno sorriso enquanto ambos se dirigiam para a porta da taberna. — Tal como disse, servirá para cimentar a minha reputação.

 

 

«Tal como disse, servirá para cimentar a minha reputação.»

O homem que se fazia chamar de McKinsey encontrava-se no cimo de um monte rochoso próximo do palácio de Holyrood. Com as mãos nos bolsos das calças, o capote aberto sobre os ombros, o sopro do vento na cara e o olhar posto no norte, em direção ao seu lar, pensou novamente naquelas últimas palavras de Scrope. O que o preocupava não eram as palavras em si (afinal, ele mesmo as tinha pronunciado), mas sim o entusiasmo quase fanático, o deleite profundo e perturbador que se refletira na voz daquele tipo.

Scrope estava muito interessado em vangloriar-se e em aumentar a sua reputação, e isso era algo que não lhe agradava nada.

Teria preferido não lidar com alguém daquela índole, mas as situações desesperadas requeriam medidas desesperadas. Se não sequestrasse uma das irmãs Cynster e a levasse para o Norte para a exibir como uma mulher desonrada diante da sua mãe, ela não lhe devolveria o cálice que tinha conseguido roubar-lhe e esconder. Caso ele não estivesse na posse do dito cálice no dia 1 de julho, perderia o seu castelo e as suas terras, e não poderia fazer nada para impedir que a sua gente, o seu clã, fosse desapossada dos seus bens e despojada do que fora o seu lar durante séculos.

Tanto a sua gente como ele perderiam o seu legado, o seu património.

Perderia tudo exceto os dois meninos que tinha prometido criar como se fossem seus. Mesmo assim, os três perderiam o lugar que lhes correspondia, o único sítio do mundo onde encaixavam por completo e ao qual pertenciam.

O destino não lhe deixara outra opção senão satisfazer as exigências da sua mãe, por muito descabidas que fossem.

Infelizmente, a primeira tentativa tinha corrido mal. Como quisera manter-se afastado do sequestro, mas assegurar-se ao mesmo tempo de que não se empregasse mais força do que a necessária, tinha contratado Fletcher e Cobbins, criminosos de baixo nível, mas que costumavam realizar com sucesso os trabalhos que levavam a cabo. Aqueles dois tinham sequestrado Heather Cynster e tinham-na levado para norte, mas a jovem tinha escapado graças à intervenção de um inglês chamado Timothy Danvers, um aristocrata que ostentava o título de visconde de Breckenridge e que naquele momento era o noivo da dama em questão.

Devido àquele fracasso, não tivera outra opção senão contratar Scrope para que sequestrasse Eliza Cynster, mas a sua decisão continuava sem lhe agradar, por muito que tentasse justificá-la mediante argumentos lógicos. Continuava inquieto, descontente e muito incomodado com o acordo que acabava de fechar. Tinha um mau pressentimento, uma sensação de desassossego constante e irritante. Era como usar um cilício.

Não tinha hesitado na hora de contratar Fletcher e Cobbins. Embora fossem capazes de empregar violência, não se tratavam de homens dispostos a cometer um assassinato de ânimo leve. De Scrope não podia dizer-se o mesmo, já que os trabalhos que levava a cabo costumavam levar a algum assassinato. Naquele sequestro, não teria de assassinar ninguém nem pouco mais ou menos, mas o facto de o tipo ter uma predisposição demonstrada para empregar aqueles métodos não era nada tranquilizador.

O problema radicava em que precisava de ter Eliza Cynster em seu poder o quanto antes. No caso de Fletcher e Cobbins, tinha estipulado que lhe serviria qualquer uma das irmãs Cynster (Heather, Eliza ou Angelica), mas, quando aqueles dois tinham apanhado a primeira, já tinha averiguado o suficiente para se dar conta de que tinha cometido um erro. Fora um grande alívio para ele que a sequestrada fosse Heather, já que, com vinte e cinco anos, podia considerar-se uma solteirona e era feita à medida para a proposta que ele tinha pensado fazer-lhe.

Mas acabara por não acontecer, já que o destino tinha intervindo e Heather tinha fugido com Breckenridge. O acontecido não o tinha perturbado muito, já que sabia que tinha Eliza como alternativa. A jovem tinha vinte e quatro anos e poderia encaixar nos seus planos quase tão bem como Heather, mas se não conseguisse apanhá-la a ela...

Angelica era a terceira e a mais nova das irmãs pertencentes ao ramo da árvore genealógica dos Cynster em que devia concentrar-se. Em teoria, poderia servir, mas tinha apenas vinte e um anos, e ele não tinha desejo algum de lidar com uma jovem dama da sua idade.

Podia ser paciente quando uma situação assim o requeresse, mas não era um homem de uma paciência inerente e convencer uma princesinha tola da alta sociedade a aceder a colaborar com ele requereria mais tato do que possuía. Por outro lado, a alternativa de a obrigar a acatar a sua vontade requereria exercer sobre ela um nível de pressão desumano que se via incapaz de atingir, seria incapaz de viver com algo parecido na sua consciência para o resto dos seus dias.

Portanto, tinha de ser Eliza Cynster, e para isso necessitava tanto das habilidades de Scrope como do seu empenho ávido em alcançar os seus objetivos. Ele fizera tudo o possível para garantir a segurança e o bem-estar da jovem, tudo o possível para se assegurar de que nada corresse mal, mas, mesmo assim...

Com o olhar fixo no horizonte pintado de violeta e nas montanhas, além das quais, a muitos quilómetros de distância, se encontravam o vale, o lago e o castelo que formavam o seu lar, tentou convencer-se de que fizera tudo o possível. Tentou convencer-se de que, tal como tinha planeado, já podia regressar a casa (ao castelo, para junto da sua gente, dos meninos) e voltar depois, a tempo de estar à espera quando Scrope chegasse com Eliza Cynster.

Honra acima de tudo. Esse era o lema da sua família, as palavras esculpidas em pedra por cima das portas de entrada do castelo e em todas as principais lareiras. A honra impedia-o de se ir embora dali, era um formigueiro constante que sentia sob a pele.

Depois de mandar Scrope ir lidar com os Cynster, de lhe mostrar como sequestrar Eliza debaixo do nariz da família vigilante dela, de pôr em marcha o seu plano, a honra exigia-lhe que exercesse de guardião, que seguisse Scrope e, de forma sub-reptícia, clandestinamente, o vigiasse e se assegurasse de que nada corresse mal... De que Scrope não se excedesse na hora de cumprir a tarefa.

Permaneceu ali, imóvel, com o olhar fixo nas montanhas que se elevavam ao longe, sentindo do fundo do coração a falta da paz e do silêncio intenso, procurando no ar com os seus sentidos o aroma dos pinheiros e dos abetos, enquanto o sol se afundava a pouco e pouco a poente e a escuridão se abatia sobre ele.

Voltou a mexer-se por fim quando as sombras foram ganhando terreno. Endireitou-se e, com as mãos ainda nos bolsos, deu meia-volta e desceu de volta à rua antes de rumar à casa que possuía na cidade. Com a cabeça encurvada e o olhar posto nos paralelepípedos do chão, começou a redigir mentalmente a carta que ia enviar ao seu administrador para lhe advertir que o seu regresso iria atrasar-se algumas semanas. Depois disso... Depois disso, esperava e rogava poder regressar a casa com Eliza Cynster ao seu lado.