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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

 

© 2004 Allison Lee Davidson. Todos os direitos reservados.

A HORA DA VERDADE, N.º 1332 - Junho 2012

Título original: The Truth About the Tycoon

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em portugués em 2012

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® Harlequin, logotipo Harlequin e Bianca são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-0302-2

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversion ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

 

A carrinha apareceu mesmo à frente dele.

Dane Rutherford praguejou enquanto girava o volante. Não bateu na parte de trás do veículo por muito pouco. Passou tão perto que conseguiu ver o pânico refletido nos olhos da condutora.

Continuou a praguejar, enquanto tentava recuperar o controlo do carro. E, embora tivesse conseguido evitar o primeiro impacto, não conseguiu evitar bater noutro automóvel.

Se a mulher não se tivesse assustado, não teria acontecido nada. Mas, assustou-se.

Primeiro, virou para um lado, depois para o outro. Dane voltou a praguejar, enquanto evitava bater no carro da rapariga mais uma vez, mas a estrada estava muito escorregadia e era tão estreita que não conseguiu evitar ir parar à valeta. Então, esqueceu-se da outra mulher e do que Wood diria quando descobrisse que batera com o carro dele. A única coisa que conseguiu fazer foi preparar-se para o impacto.

O carro era velho, mas a árvore contra a qual bateu era ainda mais velha e dura como uma rocha.

Pelo menos, o choque evitaria que continuasse a derrapar.

Hadley não queria acreditar no que lhe acontecera. À frente dela, o carro vermelho parecia um acordeão. Estava tão preocupada com o outro veículo que se esqueceu dela própria e dos seus problemas. Quando finalmente reagiu, já não conseguiu recuperar o controlo do seu carro e chocou contra um poste.

Permaneceu um momento sentada, imóvel, agarrada ao volante.

O motor fez barulho. Aqueles ruídos fizeram-na reagir e desligar o carro antes que fosse demasiado tarde.

Mais trabalho para Stu.

Abanou a cabeça para aclarar as ideias e olhou para o outro carro. A vala onde caíra era tão profunda que quase não o conseguia ver.

– Por favor, espero que esteja bem – murmurou ela quase sem fôlego, enquanto abria a porta para sair.

A estrada estava cheia de neve e gelo e, na sua tentativa de chegar ao outro carro, caiu ao chão. Com dificuldade, levantou-se e conseguiu chegar até ao outro lado.

– Por favor, espero que esteja bem – a sua voz soou como uma prece.

Não conseguia chegar até ao lado do condutor por isso foi pelo lado oposto ao condutor e viu que o homem tinha a cabeça apoiada contra o volante. Havia sangue no vidro da frente onde, obviamente, batera com a cabeça. Era evidente: o carro não tinha airbag.

Ao ver tanto sangue teve medo.

– Eh! – chamou ela, tentando abrir a porta, desesperada. Mas a porta não abria. O motor continuava a trabalhar e os olhos dele ainda estavam fechados.

– Meu Deus! Espero que esteja bem!

Voltou a bater no carro com tanta força que lhe doía a mão.

Então, voltou a olhar pela janela. Parecia que o seu peito se mexia. Sim, estava a mexer-se.

«Obrigada, meu Deus».

Estava vivo.

Hadley saiu da vala e, caminhando com cuidado para não cair, dirigiu-se para o seu carro. Sentia tanto frio nos dedos que mal conseguia abrir a porta. Sentou-se no banco e pegou na sua mala que caíra ao chão. Procurou o telemóvel no interior. Marcou um número com dificuldade e, depois, dirigiu-se para o outro carro com o telefone na orelha.

– Shane, por favor, atende o telefone.

Voltou a contornar o carro e bateu no vidro.

– Por favor, acorda! Vá lá! Oh, Shane! – exclamou quando o irmão atendeu o telefone. – Graças a Deus. Houve um acidente... Não, não te preocupes, eu estou bem.

O homem do carro mexeu-se.

Ela voltou a bater no vidro.

– Abra a porta!

O homem levantou a cabeça. Abriu as suas pestanas longas e escuras e mostrou os seus olhos azuis.

– Isso, isso mesmo – disse ela.

Então, deu-se conta que o seu irmão estava a gritar o nome dela.

– Desculpa, Shane. Estamos a uns quinhentos metros do cruzamento da oficina de Stu. O melhor é chamar uma ambulância – desligou o telefone e guardou-o no bolso. Imediatamente, o aparelho começou a vibrar novamente. Ela ignorou-o porque estava preocupada com o homem do carro que apalpava a cabeça. Ao retirar as mãos ficou a olhar para o sangue que as manchava.

– Abra a porta! – voltou a dizer, desta vez com mais ênfase.

Então ele viu-a. Endireitou-se um pouco, olhou para ela e fez uma careta. Ela conseguiu ler-lhe os lábios e soube que estava a praguejar. Decidiu interpretar aquilo como um bom sinal.

Ele moveu-se lentamente e destrancou o carro. Ela puxou a porta com força e apressou-se a desligar o motor.

O carro ficou em silêncio. O coração dela batia cada vez mais depressa. Olhou para ele e deu-se conta que estava muito perto do seu rosto atraente. Afastou-se rapidamente.

– Quem a ensinou a conduzir? – a sua voz era profunda, embora fosse apenas um murmúrio.

Ela tentou não sentir vergonha.

– O meu pai, Beau Golightly.

O homem mexeu-se, resmungou um pouco e pôs-lhe o braço sobre o ombro.

– É melhor não se mexer. A ambulância está a caminho.

Hadley esticou uma manga e tentou limpar-lhe o sangue da testa. Ele fechou a mão sobre a dela, uma mão surpreendentemente forte.

– Não preciso de uma ambulância.

– Mas, está a sangrar.

– Acha que não vi?

Então, ouviu o barulho de uma sirene.

– Provavelmente o meu irmão também vem, é o xerife.

Durante um instante, o outro condutor olhou para ela e, sem dizer nada, tirou o cinto de segurança. Espreitou pela janela e viu que o carro estava destruído.

– Sabe mesmo conduzir?

– Na verdade, era você quem vinha em excesso de velocidade – disse ela.

Ele fez uma careta e a ela pareceu-lhe ouvir qualquer coisa, embora não pudesse garantir com toda a certeza devido ao barulho da sirene da ambulância. Olhou para a estrada e, em seguida, viu Palmer e Noah, dirigindo-se para eles.

Palmer olhou para ela de cima abaixo.

– Hadley, estás ferida?

Ela abanou a cabeça e apontou para o condutor.

– Ele está... Ele está...

– Bem – disse o homem

– A sangrar. Muito.

Naquele momento, apareceu na curva o carro da polícia e ela deixou escapar um suspiro ao saber que o seu irmão vinha aí. Enquanto isso, Palmer e Noah ajudaram o estranho a sair do veículo.

Quando o homem foi retirado, Hadley viu que era tão alto como Palmer, ou talvez mais. E o seu amigo era bastante alto.

Bom, pelo menos conseguia pôr-se de pé.

O seu irmão gritou o seu nome. Ela estava a olhar para os homens, pois o homem ferido libertara-se da ajuda dos outros e estava de joelhos sobre a neve a inspecionar o seu carro.

Parecia que tinha um bom rabo.

– Hadley!

Ela fechou os olhos, encheu-se de paciência e virou-se para o irmão. A vala estava cada vez mais escorregadia devido à temperatura que baixava com o cair da tarde.

– Ajuda-me a subir – pediu ela.

Talvez a voz de Shane tivesse um tom duro, mas o seu rosto refletia preocupação. Enquanto a ajudava a subir, olhou para ela de cima a baixo para ver se estava bem. A sua expressão suavizou-se um pouco, embora não tenha relaxado completamente: ele era o xerife.

Era óbvio que Hadley não estava ferida, mas o outro carro acidentado tinha mau aspeto.

Hadley tremeu, oxalá o seu casaco fosse tão quente como o do seu irmão. Mas ela comprara-o só porque era bonito, não por ser quente. Normalmente, era uma rapariga muito prática, mas naquele caso, abrira uma exceção.

Os três homens estavam a olhar para o carro como se tivessem pena. Bom, certamente, tinha mau aspeto. Era um carro velho, embora estivesse muito bem pintado e a parte de trás parecia estar em perfeito estado. No entanto, ela preocupava-se mais com o condutor do que com o veículo. Por amor de Deus, era apenas um carro. E o homem ainda estava a sangrar. Via-se porque ao passar a mão pela testa, o sangue escorria novamente.

Dirigiu-se para o carro com determinação.

– Não acham que deveriam estar a dar-lhe atenção? – perguntou-lhes, apontando para o homem ferido.

O cabelo estava a ficar cheio de flocos de neve. Então, voltou a fixar-se naquelas pestanas longas e espessas, demasiado bonitas para um homem. A cor dos seus olhos era azul. Até àquele momento, não soubera o que aquilo significava.

Agora sabia muito bem. Muito, muito bem.

Fez um esforço por se acalmar e deu um passo atrás, então, voltou a perder o equilíbrio, mas antes de cair, ele agarrou-a.

– Não é muito cuidadosa, pois não? – observou ele.

Em vez de cair para trás, caiu para cima do homem. E que homem!

A sua imaginação começou a funcionar e deu por si a perguntar-se se o seu corpo seria tão bem constituído como aparentava.

Pôs os pés no chão com firmeza obrigando-se a endireitar-se. Os homens como ele não reparavam nas mulheres como ela, especialmente numa mulher que o atirara contra o tronco de uma árvore.

– Eu não vinha depressa – disse ele novamente. Ela sentiu-se mal porque na verdade não sabia se o homem vinha depressa ou não. Estava tão concentrada nos seus irmãos e na falta de vida amorosa, que saíra do cruzamento sem ver se vinha alguém.

Shane, Palmer e Noah continuavam a olhar para o carro.

– Hum... talvez não se tenham dado conta, mas ele ainda está a sangrar – disse ela, apontando para ele. Então, ela apercebeu-se das manchas que tinha no seu casaco. Manchas de sangue.

Ele também as viu e desculpou-se.

– Desculpe.

Ela deixou escapar um suspiro e virou-se. Saiu da valeta e foi para a estrada. Voltou para a ambulância para abrir a porta de trás. Do interior tirou uma caixa de compressas e limpou as mãos. Depois pegou em vários pacotes e voltou para junto do homem.

Sentiu que as pernas lhe começavam a doer de tanto subir e descer. Abriu um dos pacotes e tirou as compressas para limpar a testa ao homem.

Ele queixou-se e retirou-lhe a mão.

– O que está a fazer?

– Estou a tentar ajudá-lo – disse ela. Mas se o homem não queria ajuda o problema era dele. Não gostava de meter o nariz onde não era chamada. Ao contrário de algumas pessoas que conhecia muito bem e cujo nome não ia dizer. Deu-lhe as compressas e deu uma cotovelada a Palmer.

– Tenho coisas para fazer.

– Espera um pouco – Shane agarrou-lhe no braço. – É preciso fazer um relatório sobre o acidente.

Pois claro. Que tonta! Sentiu-se corar e desejou que o homem não tivesse visto. Olhou para ele rapidamente e reparou que estava a observá-la.

– Bom. Mas, podemos fazê-lo noutro sítio? Talvez não se tenham apercebido, mas está um pouco de frio – da sua boca saía vapor enquanto falava. Desde o dia de Ano Novo, já há uma semana, que não parara de nevar.

Sentiu alívio quando o seu irmão assentiu.

Shane disse-lhe que esperasse dentro do carro e ela obedeceu. Imediatamente, sentiu o calor que saía do tablier e pôs as mãos à frente do aquecimento.

O relatório era o mais normal, não tinha de se preocupar. O pior que podia acontecer era o seguro aumentar.

Outra vez.

Voltou a esfregar as mãos e levou-as à boca para as aquecer. Adorava viver em Lucius, no Montana. Mas tinha de reconhecer que os Invernos eram muito rigorosos e, muitas vezes, desejara estar noutro sítio qualquer. Se fechasse os olhos, quase que conseguia sentir o calor dos raios de sol na cara.

– Dá-me os documentos.

Abriu os olhos e viu o seu irmão à porta, apontando para o porta-luvas.

Ela fez o que ele lhe pedia. Atrás dele, viu que o condutor ferido estava na ambulância e que Palmer estava a examiná-lo. Enquanto isso, Noah falava ao telefone.

– Odeio papelada – murmurou ela, olhando para o irmão.

Ele deixou escapar um suspiro.

– Alegra-te por ninguém ter ficado ferido. Nesse caso, haveria muito mais.

– Fico contente, fico muito contente – disse ela, que não aguentaria se tivesse magoado alguém. No entanto, não lhe apetecia nada ter de pôr o seu nome num monte de documentos legais. Herdara isso da sua mãe.

– Shane...

– Não te preocupes – tranquilizou-a ele.

O seu irmão continuava com a porta aberta e lá fora estava muito frio. O condutor ferido só tinha um casaco. De certeza que estava gelado.

– Palmer não pode dar-lhe uma manta ou qualquer coisa?

Shane olhou por cima do ombro.

– Suponho que sim – respondeu e voltou a olhar para o relatório que tinha nas mãos. – Stu contou-me que te vieste embora a correr.

– O que querias? Que ficasse para jantar com Wendell Pierce? Por favor, poupem-me.

Stu preparara-lhe uma armadilha. Fizera-a ir ao seu rancho para que lhe preparasse qualquer coisa para comer. Ele tinha a mão esquerda engessada e sabia muito bem que ela era demasiado educada para se vir embora quando Wendell chegasse.

Voltou a olhar para Shane. O condutor estava a olhar para ela e ela sentiu o impacto do seu olhar, mesmo através da distância que os separava. Sentiu um arrepio.

Realmente, aquela sensação era bastante estranha.

– Stu quer que sejas feliz e que assentes de uma vez por todas.

– Tal como vocês? – obrigou-se a olhar para o seu irmão, levantando uma sobrancelha. – Tal como Evie? – abanou a cabeça. Nenhum dos seus irmãos era casado e também não namoravam com ninguém. E a sua irmã, Evie... Bom, Evie era outra história. – É realmente humilhante que nenhum dos meus irmãos acredite que consiga encontrar um homem sozinha – disse ela.

Embora fosse verdade, não pensava reconhecê-lo.

– Tens vinte e sete anos – disse-lhe Shane. – Quando foi a última vez que saíste com alguém? – perguntou, enquanto anotava qualquer coisa. – Com alguém que não seja Wendell?

Segundo ela, uma refeição não se podia qualificar como um encontro, sobretudo se fosse em casa do seu irmão. Mas, claro, se aquilo não contava então... Sentia-se realmente patética.

Wendell não tinha nada de mal, mas tinham muito pouco em comum e não se sentia atraída por ele.

– Talvez tenha estado muito ocupada. A cuidar dos filhos de Evie, a ajudar Stu na oficina, a ajudar-te a ti na esquadra... – isso quando não estava envolvida nas suas próprias ocupações na Tiff, a pensão da família, ou a tentar ter um pouco de tempo livre para fazer o que mais gostava: escrever.

Shane não voltou a olhar para ela. Acabou de escrever e afastou-se.

Ela voltou a olhar para o condutor. A sua expressão era indecifrável, mas conseguia notar uma certa tensão. Reconhecia-a aquela expressão muito bem porque a tinha visto durante muito tempo na cara de Shane.

Deixou escapar um suspiro, inspirou e abriu a porta da carrinha.

– Lamento o que aconteceu ao seu carro – disse-lhe, embora não parecesse muito convincente. – Tinha-o há muito tempo?

– Há bastante – a sua voz soou bastante neutra, dadas as circunstâncias.

– Indiana – murmurou ela, olhando para a matrícula. – Para onde ia?

– Porquê? – perguntou, olhando para ela.

Ela encolheu os ombros e cruzou os braços sobre o peito.

– A maioria das pessoas que passa por Lucius vai para outro lado. Lucius não é muito importante – embora Lucius fosse uma vila bastante grande. Tinha hospital, escolas e três igrejas diferentes. Também havia muitos restaurantes e, inclusive, um cinema com quatro salas. – Se precisar de telefonar, tenho telemóvel – ele não usava aliança, mas isso não significava nada.

Porque é que ela dera importância a esse pormenor? Não tinha a menor ideia. Além disso, não tinha passado o dia a dizer ao seu irmão que não precisava de um marido?

Ele fez uma careta e ela pensou que parecia divertido. Quase.

– Não, obrigado.

O que não significava que não tivesse alguém a quem telefonar.

Ela mudou de posição e pôs as mãos nos bolsos.

– Dói-lhe muito a cabeça?

O reboque começou a puxar o carro.

– Não tanto como o carro – disse ele olhando para o reboque.

– Palmer vai levá-lo ao hospital?

– Não.

Ela estava surpreendida.

– Palmer é um paramédico magnífico. O melhor. Tal como Noah. Embora devesse ser visto por um médico.

– Não estou assim tão mal.

– Tem a certeza? Pensei que fosse preciso ter cuidado com as pancadas na cabeça. E se tiver um traumatismo?

– Então, morrerei com ele.

Não parecia ser uma pessoa muito habituada a que lhe fizessem tantas perguntas, portanto ela conteve-se.

Shane já tinha acabado os relatórios todos e dirigiu-se para eles. Entregou uma folha ao homem.

– Por favor, vá preenchendo isto. Também tenho de ver a sua carta de condução.

O homem não agarrou na folha que ele lhe estendia.

– Podemos resolver isto sem papeladas.

Shane arqueou uma sobrancelha.

– Há algum motivo pelo qual não queira preencher o papel? – Shane sabia que a sua irmã detestava relatórios sobre acidentes e sabia os seus motivos. Mas não ia ser tão compreensivo com aquele estranho.

– É só por causa do tempo que demora – disse ele. – Nenhum dos dois está ferido e concordámos em pagar cada um o seu arranjo.

Hadley olhou para ele surpreendida. A verdade era que eles não tinham chegado a acordo nenhum.

– A minha irmã bate contra si e está disposto a pagar o arranjo do seu carro? – perguntou Shane, olhando para o veículo em questão.

– É um Shelby de 68 – a expressão do condutor não mudou. – Vinha em excesso de velocidade. Somos os dois culpados.

Shane deixou escapar um suspiro.

– Poderia verificar as marcas na estrada, mas ambos sabemos que não vinha depressa. Então, porque é que tem tanta pressa para ir a lado nenhum?

– Tenho coisas para fazer – o condutor parecia muito seguro de si e Hadley admirou-o por isso. Shane intimidava-o bastante.

Se o homem não queria reclamar de nada, ela não tinha nada a dizer sobre isso. Afinal de contas, ela também não queria preencher relatório nenhum.

Shane parou para considerar a explicação do condutor.

– Bom. Os documentos estão em ordem. Vamos ver o livrete.

A expressão do condutor não se alterou.

– Não o tenho aqui.

Santo Deus! Hadley olhou para as botas, tossindo um pouco.

– Bom, isso sim é um problema, não é? – a voz de Shane soou muito tranquila. Ela fechou os olhos. Shane nunca soava tão tranquilo, a menos que estivesse realmente zangado.

O homem não parecia um ladrão de carros, embora ela não soubesse dizer qual era o aspeto de um ladrão de carros. Mas se tivesse de descrever um numa das suas histórias, não teria o cabelo castanho, os olhos azuis e um físico impressionante. Essa seria a sua descrição do herói.

Deu-se conta que estava a olhar para ele fixamente. E ele também estava a olhar para ela. Arrepiou-se novamente.

– Bom, senhor... – disse Shane.

– Wood Tolliver – disse o homem com uma careta.

– Pois bem, senhor Tolliver, receio que tenha de me acompanhar à esquadra.

Oh, não! Pensou Hadley. Era o homem mais bonito que vira na sua vida e o seu irmão ia detê-lo.

Capítulo 2

 

 

Dane estava habituado a conseguir o que queria. Mas precisamente naquele momento parecia que não se ia safar. Pela expressão do xerife, parecia que ia ter de ir à esquadra. Afinal, não poderia conduzir o carro que comprara num leilão para o levar ao seu amigo Wood quando acabasse o seu trabalho no Montana.

Além disso, aquela mulher, Hadley, era a mulher mais bonita que via desde há muito tempo, embora, naquele momento não estivesse com muito bom aspeto.

– Se vai levar o meu carro, não há nada que eu possa fazer para o evitar – disse ao xerife. – Mas talvez se dê conta que a sua irmã sairá a ganhar se cada um pagar o arranjo do seu próprio carro – tirou uma carteira cheia de dinheiro.

Hadley conteve a respiração.

A expressão do xerife não se alterou muito, embora tivesse visto o dinheiro na mão de Dane.

– Hadley – disse, sem olhar para ela. – A carrinha pega?

– Não sei.

– Experimenta. Se pegar vai para a esquadra.

Ela fez uma careta. Apesar de ter o nariz vermelho devido ao frio, tinha uma cara muito bonita.

– Shane, vamos... não vais...

– Vai-te embora.

Ela voltou a olhar para Dane, pedindo-lhe desculpas com o olhar.

– Hadley! – a voz do xerife era em tom de advertência.

Ela inspirou e deu meia volta em direção à sua carrinha acidentada. As suas ancas esbeltas balançavam por baixo do casaco cor-de-rosa que vestia. Entrou no veículo e, depois de várias tentativas, conseguiu fazê-lo pegar. Passado um pouco, desapareceu na curva.

Quando Dane voltou a olhar para o xerife, soube que ele percebera para onde estivera a olhar.

– Então, vai subornar-me ou contar-me o que se está a passar aqui?

 

 

Hadley estacionou o carro em frente à garagem de Stu. Apanhou as coisas todas que ainda estavam espalhadas pelo banco e voltou a colocá-las dentro da mala. Depois dirigiu-se para o escritório que o seu irmão utilizava quando estava na cidade a trabalhar na garagem. Algumas pessoas podiam pensar que era estranho que Stu fosse cobói e ao mesmo tempo o único mecânico da vila. Pessoalmente, ela achava isso muito conveniente. E só esperava que ele não tivesse a coragem de tentar cobrar-lhe a reparação já que, se sofrera um acidente, fora por culpa dele.

O reboque com o descapotável estava ao lado da porta, entrou sem se atrever a olhar para ele.

Estava quase na hora de fechar, mas Riva ainda estava atrás do balcão a pintar as unhas de azul. Nem sequer levantou a vista quando Hadley deixou as chaves em cima do balcão.

Riva devia ter uns setenta anos, mas ainda gostava de estar na moda.

– Parece que tens um problema – observou a mulher. – Foste contra quem? – a mulher riu-se. – O teu irmão vai gostar de trabalhar numa coisa assim. Mas o teu seguro não vai achar o mesmo.

– Por acaso, cada um vai pagar o seu arranjo – disse Hadley, fazendo figas para que fosse assim. A menos que o teimoso do seu irmão fizesse com que o homem mudasse de opinião.

Wood Tolliver. Aquele nome não podia ser de um ladrão de carros. Parecia demasiado fora de moda e de muito nível. Inclusive o aspeto do homem era... tão...

– Vais ficar aí parada a sonhar o dia todo? – a voz de Riva penetrou nos pensamentos de Hadley e esta corou. – Ouvi dizer que te mandaste para cima dele mesmo à saída da casa de Stu.

– Parece que as notícias voam – murmurou Hadley.

– E porque é que ele quer pagar o arranjo do próprio carro?

Hadley olhou por cima do ombro para o carro que estava lá fora.

– Aquele carro é mais velho do que a minha carrinha.

Riva abanou a cabeça.