Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

© 2010 Katherine Garbera. Todos os direitos reservados.

O MELHOR PRÉMIO, N.º 1065 - Maio 2012

Título original: His Royal Prize

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em portugués em 2012

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

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I.S.B.N.: 978-84-687-0278-0

Editor responsável: Luis Pugni

ePub: Publidisa

Prólogo

Geoff Devonshire não estava interessado no pai biológico que nunca tinha conhecido. Tinha uma agenda de trabalho muito apertada e pouco tempo para o resto naquele dia. Mas sentia curiosidade, de maneira que decidiu ir à reunião no quartel geral do Everest Group.

O bloco de escritórios ficava em Londres, à beira do Tamisa, ao lado da controvertida câmara com forma de pepino.

Uma secretária recebeu-o no piso executivo.

– O senhor é o primeiro a chegar à reunião. Quer tomar alguma coisa?

Quando ele declinou o convite, a bonita e eficiente secretária acompanhou-o à sala de reuniões, deixando-o a sós.

Geoff aproximou-se da parede de vidro para olhar o rio Tamisa. Era uma manhã do mês de março e o sol tentava assomar entre as nuvens que pairavam sobre a cidade, como de costume.

A porta abriu-se e Geoff voltou-se para ver a jovem secretária com outra pessoa: Henry Devonshire, um dos seus meios-irmãos. O antigo capitão de rugby agora era conhecido pelos seus famosos reality shows.

Nunca se tinham visto e não sabiam nada um do outro salvo pela imprensa.

– Geoff Devonshire – apresentou-se, oferecendo-lhe a mão.

– Henry – disse ele.

Geoff sentia-se um pouco estranho à conversa com aquele homem pela primeira vez na vida. Mas a porta abriu-se de novo antes que pudessem dizer mais nada e Steven Devonshire entrou na sala de reuniões.

Os três filhos ilegítimos de Malcolm Devonshire estavam na mesma divisão pela primeira vez nas suas vidas. As revistas de mexericos dariam uma fortuna por essa fotografia.

Edmond, o advogado e braço direito do pai biológico dos três, entrou na sala nesse momento e convidou-os para se sentarem. Geoff assim fez, olhando para os demais homens. Malcolm Devonshire tinha admitido ser o pai dos três, mas nunca tinha querido fazer parte das suas vidas… ainda que lhes enviasse um cheque uma vez por mês.

A sua mãe, a princesa Louisa de Strathearn, que apesar do sonoro título era um membro menor da família real, tinha mantido uma relação amorosa com Malcolm quando era muito jovem. Até que soube que era uma das três mulheres com as quais Malcolm Devonshire mantinha uma aventura.

Depois disso retirou-se para uma casa no campo e, que Geoff soubesse, rara vez tinha saído de lá desde que ele nascera.

A mãe de Henry era uma cantora dos anos setenta chamada Tiffany Malone. Henry era o do meio.

Steven, o mais jovem dos três, era filho de Lynn Grandings, uma doutora em física que ganhara o Prémio Nobel. Steven tinha estudado no famoso colégio de Eton e a sua mãe, ao saber que Steven ia estudar ali, decidiu enviar Geoff para um exclusivo colégio interno nos Estados Unidos, num publicado intercâmbio com o filho de um senador norte-americano.

De maneira escandalosa, os três filhos de Malcolm Devonshire tinham nascido no mesmo ano, com uns meses de diferença.

– Por que estamos aqui? – perguntou Henry.

– O Malcolm tem uma mensagem para vocês – respondeu Edmond.

– Porquê agora? – interessou-se Geoff. Parecia-lhe raro que Malcolm Devonshire reunisse os três filhos após tanto tempo.

– O senhor Devonshire está a morrer – contou-lhes Edmond então. – E quer que o legado no qual tanto trabalhou permaneça vivo em cada um de vocês.

Geoff esteve a ponto de levantar-se e sair dali. Ele não queria saber nada de Malcolm Devonshire, nunca tinha querido porque esse homem tinha destroçado a vida da sua mãe. Ele tinha duas irmãs, Gemma e Caroline, e detestava qualquer homem que tratasse mal uma mulher.

Edmond deu-lhes uma pasta a cada um e Geoff levou algum tempo para abrir a sua. Não sabia o que ia encontrar no interior, mas a nota manuscrita apanhou-o de surpresa.

Malcolm queria que dirigisse a companhia aérea do Everest Group e, se obtivesse mais lucros do que os outros dois nos respetivos campos, herdaria a presidência do grupo.

Geoff pensou no que significaria dirigir a linha aérea de uma corporação como aquela, um império na realidade. Ainda que voar fosse a sua paixão, jamais tinha aspirado a ser o proprietário de uma linha área, o seu próprio negócio mantinha-o muito ocupado. Mas não ia recusar a proposta.

Aquela era a oportunidade de tomar o que Malcolm tinha trabalhado tanto para erguer e…

E então? Uma parte dele sentia a tentação de o arruinar. Ele não precisava do dinheiro e a sua mãe não aceitaria um cêntimo de Malcolm Devonshire porque tinha a sua própria fortuna pessoal.

Enquanto Henry e Steven falavam com Edmond, Geoff reclinou-se na cadeira, pensativo. Uns segundos depois, o advogado voltou-se para ele.

– Que lhe parece?

– Não preciso do dinheiro do Malcolm – respondeu.

Também ele tinha herdado um título e uma fortuna dos seus avôs maternos. Não teria tido de trabalhar se não quisesse, mas os negócios eram a sua paixão. Os seus interesses eram variados e diversos e gostava de estar ocupado.

– Podemos falar a sós um momento? – perguntou Steven.

Edmond saiu da sala de reuniões sem dizer nada e, assim que a porta se fechou atrás dele, Steven levantou-se. Geoff sabia que salvara da ruína uma famosa empresa de porcelanas. Steven era um homem de negócios inteligente e suspeitava que fosse muito difícil ganhar naquela competição que Malcolm tinha preparado para os três.

– Acho que deveríamos aceitar – anunciou.

– Eu não tenho tanta certeza – disse Geoff. – Não gosto que me digam o que tenho de fazer. Se quiser deixar-nos algo em testamento, que o faça.

– Mas isto afeta as nossas mães – objetou Henry.

Tudo o que Malcolm fazia afetava a sua mãe, mas ela não queria saber nada do antigo amante. No entanto, Geoff queria algo que a compensasse pelo que lhe tinha feito.

– Claro que afeta – admitiu. – E se vocês os dois aceitam, eu também. Mas não preciso nem da aprovação nem do dinheiro dele.

Os três estavam de acordo nisso e, por fim, o consenso foi aceitar o desafio que o pai que nenhum dos três conhecera lhes tinha imposto.

Geoff saiu do edifício com Henry.

– Alguma vez o viste? – perguntou ao seu meio-irmão.

– O Malcolm?

– Sim.

– Não. E tu?

Geoff sempre tinha pensado que Malcolm nunca quisera saber nada dos três filhos e teria levado uma surpresa se assim não fosse.

Henry negou com a cabeça.

– Mas esta proposta parece interessante.

– Pois parece – assentiu Geoff. – Ainda que eu não tenha experiência a gerir uma companhia aérea.

– Nem eu uma companhia discográfica.

– Tenho a impressão de que o Steven está em vantagem. Olha o que fez com a empresa Raleighvale. Eu estou acostumado a dirigir fundações e empresas com contas saudáveis…

– Comigo sucede o mesmo – disse Henry.

Quando se separaram, Geoff ficou sentado no carro, a questionar-se como se ia ocupar da linha área Everest além da sua já agitada vida profissional. Encontraria uma maneira, pensou. Encontrava sempre.

Mas só por uma vez gostaria de encontrar algo que o fizesse realmente feliz. Ele cumpria com as obrigações familiares indo a eventos que eram importantes para a mãe ou as irmãs e, a partir daquele momento, ia ter de levantar uma empresa do seu pai biológico…

Não o ia fazer por ser o seu dever. Fazia-o porque queria superar todas as expectativas de Malcolm.

Gostava daquele desafio, pensou.

Henry e Steven seriam bons adversários e conhecê-los nessas circunstâncias parecia-lhe quase o mais lógico. Aquela era a oportunidade de demonstrar a si próprio que, como o mais velho dos filhos ilegítimos de Malcolm Devonshire, merecia ficar com o melhor quinhão.

Capítulo Um

O evento a que teve de ir nessa mesma noite foi longo e aborrecido, o típico jantar de beneficência a que Geoff preferiria não ter de ir. Mas como membro da família real britânica, havia ocasiões em que, simplesmente, não podia declinar um convite. Pelo menos, o salão William Kent, no hotel Ritz, era um lugar lindo.

A sua acompanhante nessa noite era Mary Werner, filha do proprietário de uma empresa multimilionária de material de escritório. Era uma jovem encantadora e seria uma esposa estupenda… se fosse isso o que ele procurava. E sabia que certamente estava à espera de um pedido de casamento.

As suas meias-irmãs, Gemma e Caroline, de vinte e três e vinte e um anos respetivamente, diziam que era uma sonsa. Ele fingia repreendê-las, mas tinham razão. Mary, ainda que encantadora, era demasiado aborrecida para ele.

Os fotógrafos apinharam-se na entrada do salão e, quando olhou por cima do ombro, Geoff viu Amelia Munroe. Trazia uma túnica vermelha que parecia abraçar as suas curvas generosas e um cãozinho ao colo. O animal emitia um latido de cada vez que lhe tiravam uma foto.

Todas as cabeças se voltaram para ela. Amelia disse algo com a sua pronúncia norte-americana e depois soltou uma gargalhada. E, de repente, Geoff não se importou tanto por estar ali.

– É a Amelia Munroe – disse Mary.

– Sim, eu sei. Parece que gosta de fazer entradas espetaculares.

– Desde sempre. Toda a gente está a olhar para ela. Não sei como faz isso – comentou Mary.

Geoff sabia bem como ela fazia aquilo. Chamava a atenção por causa do seu corpo, do seu sorriso, daquelas gargalhadas tão espontâneas. Movia-se com total confiança, absolutamente segura de si mesma. O seu cabelo escuro encaracolado preso num apanhado alto, com vários caracóis a cair à volta de um rosto ovalado. Não conseguia ver os seus olhos dali, mas sabia que eram de um azul brilhante. Os homens desejavam-na… demónios, também ele a desejava. E a julgar pela reação de Mary, as mulheres queriam ser como ela.

A energia no salão tinha mudado desde a sua chegada e, ainda que os paparazzi tivessem de ficar à porta, uma onda de emoção pareceu percorrer todos os convidados.

– Imagino que o Fundo Internacional para a Infância deva ser um dos seus projetos favoritos – disse Mary.

– Deve ser – assentiu Geoff.

Hubert Grace, um amigo do seu padrasto, desculpou-se antes de se levantar para cumprimentar Amelia. E era compreensível.

Geoff também se sentia atraído por aquela jovem, mas sabia por experiência própria que as coisas de que mais gostava no mundo eram perigosas para ele e para a sua tranquilidade. E depois de ter aceitado o desafio de Malcolm tinha de medir os seus passos, algo que sempre o desassossegava.

– Tu achas que a Amelia percebe que é o alvo de atenções de toda a gente? – perguntou-lhe Mary.

– Isso incomoda-te?

– Não, a verdade é que não. Mas fico com um pouco de inveja.

Mary era uma jovem linda, uma autêntica rosa inglesa de pele clara e cabelo liso. Os seus olhos eram de um bonito azul, cheios de inteligência, mas tinha muito pouca personalidade. Deixava-se levar por todos, obedecia a todas as regras… ainda que também ele tivesse de fazê-lo em algumas ocasiões. Devido à sua posição, tinha de fazer o que ditava a sociedade, especialmente no seu círculo.

Geoff olhou para Amelia, que estava rodeada de gente. Também ele gostaria de estar ali, mas não ser mais um. Dado o seu estatuto, rara vez se conformava em ser mais um e naquela ocasião não ia ser diferente.

– O que é que invejas nela, Mary?

Ela bebeu um gole de vinho, enquanto olhava para Amelia, que continuava à conversa com Hubert.

– Toda a gente fala dela, até eu. Não sei, gostaria de entrar em algum lugar e causar aquela impressão.

Geoff estudou a jovem norte-americana. Era lindíssima, dos lábios carnosos à figura voluptuosa. Mas mais do que isso, era a sua joie de vivre que atraía todos os olhares. Costumava sair na revista Hello! E nos vídeos do Youtube a navegar no seu iate pelo Mediterrâneo. Tinha dado mais do que um escândalo, mas não parecia envergonhar-se de nada.

E Geoff sentia-se intrigado.

– Eu acho que é porque não obedece às regras e é-lhe indiferente se alguém se incomoda com isso – opinou.

– Estou de acordo – interveio a sua irmã Caroline, que acabava de se sentar ao seu lado. – Estão a falar da Amelia, não estão?

– Sim – assentiu Mary. – A verdade é que a invejo um pouco.

Caroline soltou uma gargalhada.

– Eu também. Gostaria de chamar a atenção tanto como ela.

– E chamas, Carol, o que acontece é que não dás por isso – disse Geoff.

– Tu és o único que pensa isso.

Geoff adorava as suas irmãs, que praticamente tinha criado. A sua mãe tinha sofrido vários episódios de depressão e com frequência fechava-se no quarto durante semanas. E o padrasto tinha morrido quando as meninas tinham quatro e seis anos.

– O homem da tua vida também vai perceber.

– E quando vai aparecer o homem da minha vida? – perguntou Carol.

– Quando tiveres trinta anos – brincou Geoff.

– Ah, pois até lá terei de divertir-me com os outros.

– Não, se eu conseguir evitar isso.

– Não conseguirás, agora estás demasiado ocupado com a linha aérea Everest.

Geoff fez uma careta.

O «presente» de Malcolm Devonshire era um peso muito pesado. Com a subida do preço do petróleo e a crise económica, as linhas aéreas estavam a passar por um momento difícil. Ele tentava implementar ideias criativas, mas isso exigia-lhe mais tempo do que queria dedicar ao trabalho.

Mas tinha decidido que era hora de trabalhar e jogar duro.

– É verdade, Carol – assentiu.

Mary tinha estado muito calada durante aquela conversa e Geoff suspeitava que era porque, no fundo, esperava um pedido de casamento. E ainda que gostasse de Mary, quando se tentava imaginar a passar o resto da sua vida com ela, não o conseguia fazer.

Simplesmente, era demasiado aborrecida. Divertia-se mais à conversa com as suas irmãs do que com ela e, por fim, isso foi o que fez com que tomasse a decisão. Não seria justo nem para Mary, nem para ele, os dois mereciam algo mais de uma relação sentimental.

Ele tinha uma vida de deveres e obrigações e queria que o seu casamento fosse algo mais do que a união de dois títulos ou dois apelidos. Queria um casamento a sério, ao contrário do que tinha visto em sua casa. Sabia que nunca poderia virar as costas às suas responsabilidades, mas também queria um casamento feliz.

A aventura que a mãe dele tivera com Malcolm Devonshire tinha-a mudado por completo. Tinha-lho contado uma vez, durante uma das suas depressões. Tinha-se casado com o pai de Carol e Gemma para limpar a sua reputação, destroçada depois da aventura com Malcolm Devonshire.

Quando era mais jovem, Geoff tinha visto que a mãe se entristecia de cada vez que lia algo sobre Malcolm na imprensa e, a pouco e pouco, começou a não sair de casa.

E ele queria algo mais da vida. Queria algo diferente, uma mulher que lhe pudesse avivar a paixão…

Ao escutar risos do outro do salão olhou para Amelia, que estava à conversa com vários pretendentes.

Queria-a a ela.

Amelia Munroe aparecia com frequência na imprensa, algo que ele tentara sempre evitar. Mas a sua notoriedade não o parecia incomodar naquele momento.

Estava acostumado a conseguir o que queria e com Amelia Munroe não seria diferente, pensou.

Depois de beber um gole de Martini inclinou-se para trás na cadeira, recordando os dias que tinha passado com ela no Botsuana, onde tinham ido para chamar a atenção sobre os problemas do país. Recordava quão compassiva e sincera lhe tinha parecido então. Nada a ver com a herdeira mimada que pejava constantemente a imprensa. Não, aquela era uma mulher que se sentava no chão para consolar uma criança, uma mulher que recolhia os bidões de água e o material médico que tinham levado para aquelas pessoas… inclusive, ela tinha dito algumas palavras na língua deles.

Amelia tinha-lhe contado depois que a tinha aprendido numa viagem prévia à zona.

Essa faceta de Amelia Munroe tinha-o intrigado, mas vê-la ali naquela noite recordava-lhe que era uma mulher complexa, desconcertante e linda. E ele, de repente, estava empenhado em conhecê-la melhor.

Amelia Munroe sorriu, enquanto Cecelia, Lady Abercrombie, lhe contava o desastre que tinha acontecido durante um jantar em sua casa na semana anterior.

Amelia desejaria ser a frívola que os meios de comunicação descreviam porque então conseguiria dar meia volta. Mas não o ia fazer. Lady Abercrombie era uma das melhores amigas da sua mãe e, em geral, gostava muito dela.

– Bom, em resumo, ficas contente por não teres lá estado.

– Não fico contente por ter perdido uma festa em tua casa. Aposto que aconteceu algo interessante.

– Se tu tivesses lá estado, teria sido interessante – disse Cecelia. – Correu tudo bem em Milão?

– Uma maravilha. A minha mãe desenhou uma nova coleção que é simplesmente espetacular. Estou desejosa que toda a gente a veja.

– Eu penso ir na semana que vem.

Ainda que tivesse mais de cinquenta anos, Cecelia parecia mais nova, pelo menos quinze anos, com um físico atlético e um penteado sempre perfeito. Mas o que realmente a fazia parecer mais jovem era a sua pele de porcelana, algo que a sua mãe, Mia Domenici, atribuía aos tratamentos que fazia duas vezes por ano na Suíça.

– Aposto que vais gostar.

– Quero ir. Ah, está ali o Edmond, o advogado do Malcolm Devonshire. Vou perguntar-lhe como se encontra o Malcolm. Dá-me um minuto, Amelia.

– Sim, claro.

Cecelia era uma intriguista que conhecia os detalhes da vida de toda a gente. Mas não era má pessoa, pelo contrário.

Amelia viu que um homem se dirigia a ela e reconheceu-o no mesmo instante: Geoff Devonshire. Tinham ido juntos a vários jantares de beneficência e ambos estavam no conselho do Fundo Internacional para a Infância.

Havia algo naquele homem, com o seu cabelo escuro e ondulado e os seus penetrantes olhos azuis, que o tornava irresistível. Recordou então uma foto que tinha visto dele, ao lado do seu jet privado, de calças de ganga… e sem camisa.

Uma brasa. Tinha os peitorais tão marcados como os modelos italianos que sua mãe contratava para desfilarem na passarela.

Mas, ao contrário dos outros homens, Geoff nunca lhe prestara muita atenção. E isso enlouquecia-a.

– Boa noite, Geoff – ia dar-lhe o tradicional beijo na face, mas ele surpreendeu-a agarrando-a pela cintura e dando-lhe um beijo nos lábios.

Amelia inclinou a cabeça para um dos lados, tentando dissimular que a tinha apanhado totalmente desprevenida.

Era ela que fazia coisas imprevisíveis.

– Não achas que te passaste um pouco?

– Posso ser um canalha com cara de pau quando quero – replicou Geoff.

Mas era ela que dava escândalos, pensou Amelia. Ainda que tivesse crescido rodeada de riquezas e mordomias, tinha nascido no meio de um escândalo. A sua mãe era então amante de Augustus Munroe, um magnata de Nova Iorque que era casado e que tinha revolucionado a indústria hoteleira com os seus estabelecimentos de luxo.